
Bom,vou procurar ser bem clara,mas lembrando logo que as mães não são iguais só pq são mães e que não posso trata-la como criança pq ela ainda não passou dos 90 quando TALVEZ esteja numa situação de dependência que nos inspire cuidados especiais.
Vou falar um pouco de minha mãe... 1º;ela é uma mulher independente,autônoma que vive sozinha num prédio com toda uma infra estrutura montada em torno de sí.
Ela tem academia,salão de festas,piscina,sauna,circuito de segurança 24 hs,biblioteca,sala de internet e agora tem seu próprio computador que tem aprendido a usar um pouco mais a cada dia.
Minha mãe ficou viúva com 27 anos e sem família no Rio de Janeiro para ajuda-la fosse a me criar ou a se locomover pois havia sido paralítica aos 20 anos(já falei sobre esse problema dela antes aquí no blog).
Ela sempre teve que fazer e resolver a vida sozinha,com isso criou uma rotina onde ela se ocupa de ida à médicos,Bancos,vai ao salão,cuida de suas unhas,cabelos,etc... como qq outra mulher que tem sua vaidade e que tem condições financeiras suficientes para isso.
Ela tem uma autonomia financeira que lhe permite viver sem precisar de ajuda de parentes (ainda bem,pq se não já teria morrido de fome-os parentes dela são paupérrimos).
A 2ª parte que devemos lembrar é a questão ''saudades''.Acho muito complicada essa parte.
Vindo para cá,fizemos uma escolha baseada em nossas vidas(minha,de meu marido e de nossas filhas)e não baseada na vida dela.
Não tínhamos como fazer as 2 coisas.
Pensamos em nosso futuro,nos estudos de nossa filha mais nova que vive conosco,na carreira de meu marido e na minha possibilidade de voltar aos estudos,aprender inglês,espanhol,italiano,fazer algum curso que me interesse,enfim.
Estamos caminhando na direção que escolhemos dentro de nosso planejamento.As coisas estão indo positivamente apesar de serem lentas.
Para minha mãe vir de forma legal e definitiva temos que apresentar uma renda bastante significativa que possa sustentar a todos nós incluindo a ela.
O que ela recebe de pensão de meu pai não é considerado aquí para o Governo do Canadá.
Ela poderia se sustentar sem nossa ajuda pois ela é quem pode realmente nos ajudar e tem feito isso.
Mas para o Governo isso não importa.
Mas vamos a 3ª e mais importante consideração disso tudo:
Minha mãe como falei no começo dessa postagem tem uma vida própria,não depende da gente pra nada.Mas se sente sozinha sem nossa presença por perto.
Não morávamos juntos,mas estávamos na mesma cidade.
Almoçávamos juntos 1 x por semana geralmente aos domingos quando ela ia a nossa casa.
Ela enquanto esteve aquí conosco ficou por 3 meses e sempre havia um amigo ou uma amiga que mora no prédio dela que a procurava pelo meu Skype,que diziam que estavam com saudades,etc..
Percebemos logo que ela não estava tão sozinha lá como pensávamos.Acho que até mesmo ela percebeu que tinha amigos de verdade.
Muitas vezes precisamos nos afastar para valorizar mais.
Durante o tempo em que ela esteve aquí,1 mês foi com o pé quebrado sem poder se locomover pois não podia tocar no chão e como já foi paralítica seu equilíbrio é muito menor que o de todos nós,imagine com um pé só!
Então sobraram 2 meses para ela poder sair e conhecer a cidade e a Província.
Fizemos todos os passeios que foram possíveis,o frio sempre atrapalha e principalmente no caso dela a neve pois torna as ruas escorregadias e perigosas para uma queda.
Isso também acabou limitando-a a passear mais de carro.
Meu marido estava fazendo um estágio 3x por semana e um mês desses 2 foram reservados para estudar para a Ordem.Sobrou assim 1 mês realmente livre para podermos passear sem correr.
Eu não dirijo e mesmo que dirigisse costumamos sair todos juntos.
Chamei-a para caminhar comigo pelo bairro mas ela ficava muito cansada rapidamente por conta das dificuldades dela de equilíbrio.
Foram somente 3 saídas a pé juntas por conta disso(incluindo 1 passeio de metrô e caminhada pela cidade subterrânea).
Moral da história;sabemos que valeu a pena a viagem por vários motivos,o principal foi ela ter conhecido um outro País que não o Brasil,ter estado conosco depois de um ano e meio distantes e saber como é a vida aquí com os próprios olhos e sua própria perspectiva,e não com a minha.
Ela agora sabe como é o final do verão,o outono inteiro e o comecinho do inverno.
Conhece a neve, viu o que é uma tempestade de neve, sabe como ficam as ruas depois.
Conhece o metrô e sabe que não tem elevadores para as pessoas com problemas de mobilidade.
Viu que sem a lingua ficaria totalmente dependente de um de nós e que isso seria impossível de aceitar,tanto para a gente que temos nossa rotina e vida próprias como para ela que não suporta ser dependente de quem quer que seja.
Eu respeito muito esse modo dela pensar pois sei pelo que ela já passou na vida. Ela está mais que certa em querer ter a própria vida sem depender da gente para ir e vir.
Minha mãe está com 68 anos e gosta de sair para viajar com as amigas,conhecer cidades próximas em grupos de turismo,mas isso na língua dela,com o dinheiro dela no tempo dela. E não no nosso.
Nós acreditamos que agora seria extremamente prematuro a vinda dela definitiva mesmo que tivéssemos a renda necessária para satisfazer as exigências do Governo.
Ela teria que mudar radicalmente sua vida,quebrar sua rotina que lhe agrada plenamente para viver aquí provavelmente muito mais sozinha,pois não somos(nem nós nem ela)adeptos de compartilharmos a mesma casa todos juntos.
Ela tem seu próprio modo de viver, de comer,seus horários diferentes dos nossos.
Tem seu modo de decorar a casa e eu o meu.
Pode parecer estranho para quem vive com a mãe,com os pais ler o modo como estou descrevendo,mas eu entendo que as pessoas são indivíduos e cada um tem seu próprio mundinho criado de acordo com seus gostos e interesses.
Chegamos a ver um apartamento aquí na nossa rua,vi preço,etc.. fiquei até amiga do senhor que é dono do prédio.
Conversei com ele sobre a situação dela e ele foi logo me apoiando pois ele jamais seria feliz dependente dos filhos ou se não tivesse o próprio cantinho do jeito que gosta de ter.
Esse senhor não tem menos que 80 anos!
Conclusão;acho que minha mãe vai ficar ainda mais um tempo por sua conta pelo jeito que ela está hoje.
Se viesse de vez agora teria que abrir mão de uma individualidade, de um círculo de amizade e independência conquistados para estar perto de nós 3.Seria um preço alto a pagar.
Penso que ainda é cedo para colocá-la como uma senhora inválida pois isso ela não é .
Tenho que respeitar sua vida e seu modo de ser e também respeitar que ela não é uma bonequinha que eu levo para onde quiser pq decidí morar fora do Brasil.
O tempo é sempre o melhor conselheiro.
Quando chegar o momento em que ela precise mais de nós e que tenha consciência disso ela mesma,estaremos aquí;prontos para procurar um ap legal,mobiliar,buscar ela no Brasil de novo,enfim, fazer tudo que pudermos fazer como filhos que somos.
Mas enquanto ela estiver batendo pernas nas ruas, sumindo nos fins de semana para os eventos dela,indo ao mercado sozinha,pegando seus táxis,frequentando o Centro e ainda costurando,fazendo roupinhas para doar a bebês carentes,etc, etc.. ela não pode ser carregada como se fosse um pacote e para ser colocada perto de nossas vistas para ficarmos tranquilos com a segurança dela.
Ontem quando nos falamos ao telefone ela ainda tirou onda comigo que está morenaça..eu mereço..estou amareladaça!!
Acho que os filhos muitas vezes pensam ser os pais de seus pais e outras vezes não crescem e continuam sendo dependentes emocionalmente de seus pais.(esses na minha opinião tem ainda mais dificuldades em conseguir viver aquí sem a família(pais).
Estou mais para o 1º caso e buscando mudar isso pra ontem para não sofrer mais tanto quanto antes ao chegarmos aquí quando me culpava até por te-la deixado sozinha no Brasil.
Vivendo e aprendendo!