Cariocas no Canadá

Translate

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Para quem tem pais sozinhos no Brasil...



Ontem no final da tarde estivemos na casa de amigos e conversamos sobre como foi a estada de minha mãe aquí,hoje quando acordei,me toquei de que não havia comentado no blog até agora sobre isso,nem tão pouco sobre a possibilidade dela vir morar conosco aquí no Canadá.
Bom,vou procurar ser bem clara,mas lembrando logo que as mães não são iguais só pq são mães e que não posso trata-la como criança pq ela ainda não passou dos 90 quando TALVEZ esteja numa situação de dependência que nos inspire cuidados especiais.

Vou falar um pouco de minha mãe... 1º;ela é uma mulher independente,autônoma que vive sozinha num prédio com toda uma infra estrutura montada em torno de sí.
Ela tem academia,salão de festas,piscina,sauna,circuito de segurança 24 hs,biblioteca,sala de internet e agora tem seu próprio computador que tem aprendido a usar um pouco mais a cada dia.
Minha mãe ficou viúva com 27 anos e sem família no Rio de Janeiro para ajuda-la fosse a me criar ou a se locomover pois havia sido paralítica aos 20 anos(já falei sobre esse problema dela antes aquí no blog).
Ela sempre teve que fazer e resolver a vida sozinha,com isso criou uma rotina onde ela se ocupa de ida à médicos,Bancos,vai ao salão,cuida de suas unhas,cabelos,etc... como qq outra mulher que tem sua vaidade e que tem condições financeiras suficientes para isso.
Ela tem uma autonomia financeira que lhe permite viver sem precisar de ajuda de parentes (ainda bem,pq se não já teria morrido de fome-os parentes dela são paupérrimos).
A 2ª parte que devemos lembrar é a questão ''saudades''.Acho muito complicada essa parte.
Vindo para cá,fizemos uma escolha baseada em nossas vidas(minha,de meu marido e de nossas filhas)e não baseada na vida dela.
Não tínhamos como fazer as 2 coisas.
Pensamos em nosso futuro,nos estudos de nossa filha mais nova que vive conosco,na carreira de meu marido e na minha possibilidade de voltar aos estudos,aprender inglês,espanhol,italiano,fazer algum curso que me interesse,enfim.
Estamos caminhando na direção que escolhemos dentro de nosso planejamento.As coisas estão indo positivamente apesar de serem lentas.
Para minha mãe vir de forma legal e definitiva temos que apresentar uma renda bastante significativa que possa sustentar a todos nós incluindo a ela.
O que ela recebe de pensão de meu pai não é considerado aquí para o Governo do Canadá.
Ela poderia se sustentar sem nossa ajuda pois ela é quem pode realmente nos ajudar e tem feito isso.
Mas para o Governo isso não importa.

Mas vamos a 3ª e mais importante consideração disso tudo:
Minha mãe como falei no começo dessa postagem tem uma vida própria,não depende da gente pra nada.Mas se sente sozinha sem nossa presença por perto.
Não morávamos juntos,mas estávamos na mesma cidade.
Almoçávamos juntos 1 x por semana geralmente aos domingos quando ela ia a nossa casa.
Ela enquanto esteve aquí conosco ficou por 3 meses e sempre havia um amigo ou uma amiga que mora no prédio dela que a procurava pelo meu Skype,que diziam que estavam com saudades,etc..
Percebemos logo que ela não estava tão sozinha lá como pensávamos.Acho que até mesmo ela percebeu que tinha amigos de verdade.
Muitas vezes precisamos nos afastar para valorizar mais.

Durante o tempo em que ela esteve aquí,1 mês foi com o pé quebrado sem poder se locomover pois não podia tocar no chão e como já foi paralítica seu equilíbrio é muito menor que o de todos nós,imagine com um pé só!
Então sobraram 2 meses para ela poder sair e conhecer a cidade e a Província.
Fizemos todos os passeios que foram possíveis,o frio sempre atrapalha e principalmente no caso dela a neve pois torna as ruas escorregadias e perigosas para uma queda.
Isso também acabou limitando-a a passear mais de carro.
Meu marido estava fazendo um estágio 3x por semana e um mês desses 2 foram reservados para estudar para a Ordem.Sobrou assim 1 mês realmente livre para podermos passear sem correr.
Eu não dirijo e mesmo que dirigisse costumamos sair todos juntos.
Chamei-a para caminhar comigo pelo bairro mas ela ficava muito cansada rapidamente por conta das dificuldades dela de equilíbrio.
Foram somente 3 saídas a pé juntas por conta disso(incluindo 1 passeio de metrô e caminhada pela cidade subterrânea).

Moral da história;sabemos que valeu a pena a viagem por vários motivos,o principal foi ela ter conhecido um outro País que não o Brasil,ter estado conosco depois de um ano e meio distantes e saber como é a vida aquí com os próprios olhos e sua própria perspectiva,e não com a minha.
Ela agora sabe como é o final do verão,o outono inteiro e o comecinho do inverno.
Conhece a neve, viu o que é uma tempestade de neve, sabe como ficam as ruas depois.
Conhece o metrô e sabe que não tem elevadores para as pessoas com problemas de mobilidade.
Viu que sem a lingua ficaria totalmente dependente de um de nós e que isso seria impossível de aceitar,tanto para a gente que temos nossa rotina e vida próprias como para ela que não suporta ser dependente de quem quer que seja.

Eu respeito muito esse modo dela pensar pois sei pelo que ela já passou na vida. Ela está mais que certa em querer ter a própria vida sem depender da gente para ir e vir.

Minha mãe está com 68 anos e gosta de sair para viajar com as amigas,conhecer cidades próximas em grupos de turismo,mas isso na língua dela,com o dinheiro dela no tempo dela. E não no nosso.
Nós acreditamos que agora seria extremamente prematuro a vinda dela definitiva mesmo que tivéssemos a renda necessária para satisfazer as exigências do Governo.
Ela teria que mudar radicalmente sua vida,quebrar sua rotina que lhe agrada plenamente para viver aquí provavelmente muito mais sozinha,pois não somos(nem nós nem ela)adeptos de compartilharmos a mesma casa todos juntos.
Ela tem seu próprio modo de viver, de comer,seus horários diferentes dos nossos.
Tem seu modo de decorar a casa e eu o meu.
Pode parecer estranho para quem vive com a mãe,com os pais ler o modo como estou descrevendo,mas eu entendo que as pessoas são indivíduos e cada um tem seu próprio mundinho criado de acordo com seus gostos e interesses.

Chegamos a ver um apartamento aquí na nossa rua,vi preço,etc.. fiquei até amiga do senhor que é dono do prédio.
Conversei com ele sobre a situação dela e ele foi logo me apoiando pois ele jamais seria feliz dependente dos filhos ou se não tivesse o próprio cantinho do jeito que gosta de ter.
Esse senhor não tem menos que 80 anos!

Conclusão;acho que minha mãe vai ficar ainda mais um tempo por sua conta pelo jeito que ela está hoje.
Se viesse de vez agora teria que abrir mão de uma individualidade, de um círculo de amizade e independência conquistados para estar perto de nós 3.Seria um preço alto a pagar.
Penso que ainda é cedo para colocá-la como uma senhora inválida pois isso ela não é .
Tenho que respeitar sua vida e seu modo de ser e também respeitar que ela não é uma bonequinha que eu levo para onde quiser pq decidí morar fora do Brasil.

O tempo é sempre o melhor conselheiro.

Quando chegar o momento em que ela precise mais de nós e que tenha consciência disso ela mesma,estaremos aquí;prontos para procurar um ap legal,mobiliar,buscar ela no Brasil de novo,enfim, fazer tudo que pudermos fazer como filhos que somos.
Mas enquanto ela estiver batendo pernas nas ruas, sumindo nos fins de semana para os eventos dela,indo ao mercado sozinha,pegando seus táxis,frequentando o Centro e ainda costurando,fazendo roupinhas para doar a bebês carentes,etc, etc.. ela não pode ser carregada como se fosse um pacote e para ser colocada perto de nossas vistas para ficarmos tranquilos com a segurança dela.

Ontem quando nos falamos ao telefone ela ainda tirou onda comigo que está morenaça..eu mereço..estou amareladaça!!

Acho que os filhos muitas vezes pensam ser os pais de seus pais e outras vezes não crescem e continuam sendo dependentes emocionalmente de seus pais.(esses na minha opinião tem ainda mais dificuldades em conseguir viver aquí sem a família(pais).

Estou mais para o 1º caso e buscando mudar isso pra ontem para não sofrer mais tanto quanto antes ao chegarmos aquí quando me culpava até por te-la deixado sozinha no Brasil.

Vivendo e aprendendo!

9 comentários:

  1. Muito bom, Patinha!
    Confesso que pensamos bastante sobre esse assunto aqui em casa e sempre chegamos a mesma conclusão que você.

    Bjs!

    ResponderExcluir
  2. Realmente é complicado viver longe de nossos pais. Sou filha única e sei q terei q cuidar deles em algum momento. Este, é uma questão q me coloca em check, quando penso na imigração. Meus filhos são muito apegados aos meus pais, vai ser super dificil p/ eles se afastarem.,mesmo meus pais sendo independêntes financeiramente, podendo irem nos visitar quando quizerem.... Me preocupa não estar presente na vida deles quando mas precisarem de mim.
    Na vida é assim, sempre fazemos escolhas, muitas são difícies e nos afastam de quem queríamos ter sempre ao lado.

    ResponderExcluir
  3. Oi Pati, sua mãe é muito jovem, vcs estão certos em respeitar a indivudualidade dela, e tbem esta certa em relação a morarem na mesma casa, é bem complicado isso né, mesmo sendo mãe, mesmo amando tanto, cada um tem sua rotina, suas manias....
    Beijos menina, boa semana!

    ResponderExcluir
  4. Verdades as vezes doem mais a gente que aos outros,eu estava certa de que ela não voltaria daquí até ela começar a me mostrar o quanto está com uma vida ativa e independente no Brasil. Tive que rever meus conceitos!!

    Bjs meninas!!

    ResponderExcluir
  5. Saudade é um bichinho teimoso que aperta no peito, principalmente se for saudade da mãe.. Eu deixei a minha no Brasil, mais ou menos na mesma situação que vc, a minha mãe tem uma certa idade, 66 anos, mora sozinha, mas vivendo em São Paulo.. não tem como não ficar preocupado, todo dia penso nela, me preocupo, sempre que posso ligo pra ela. Mas mesmo assim, morrendo de saudade e de preocupação, sei que o melhor por enquanto é que cada um viva num cantinho próprio..
    Bj, ótima semana pra vcs!

    ResponderExcluir
  6. O que dizer... Penso igual a vcs! Meu coração tb fica muiiito apertado. Mas como ela mesma diz, eu tenho que seguir o que considero o melhor caminho p/mim e meu marido - como ela fez um dia em relação aos pais dela. Ela é viúva desde 2001 - acho q nunca pensou q isso aconteceria assim.
    Ela sempre foi independente, tem netos aqui que me fazem acreditar que em hipótese alguma irá deixá-los p/viver comigo aí... É duro tudo isso. Mas não podemos seguir o caminho que nossos pais, irmãos e toda família escolheram para ELES. Bjos, Carla. Adorei todos os comentários! ;)

    ResponderExcluir
  7. Que bom que ela ficou um tempo com vcs, mas entendo que para ela é bem complicado ficar ai e deixar sua vida aqui no Brasil...E quando elas chegam numa certa idade tratamos elas como se fossem nossas filhas, mas elas se negam a obedecer é claro rs rs rs

    Na verdade ficamos muito parecidas com elas com o passar do tempo, só percebemos isso quando atingimos a nossa maturidade, eu por exemplo as vezes me olho no espelho e vejo minha mãe rs rs rs ...
    bjo grande
    Adelia

    ResponderExcluir
  8. Oi Patinha,

    Penso que de uma forma ou de outra todo mundo que cogita a ideia de imigrar passa por este dilema, uns de form mais intensa, outros menos... eu sou a filha caçula, quando nasci minhas irmãs já eram adolescentes e todas se casaram cedo, meus irmãos também se casaram quando eu era bem jovem, então quem mais ficou com meus pais fui eu, que mesmo depois de casada continuei morando muito perto e nosso contato continuou a ser praticamente diário...
    Bem há cinco anos nos mudamos de São Paulo pra Minas e depois de alguns meses meus pais também vieram, é claro que isto gerou uma enorme onda de ciúmes rsrsrsr,
    Quando começamos a pensar em imigrar, as primeiras pessoas pra quem contamos foram meus pais, e sabe o que mais me surpreendeu ? eles apoiaram logo de cara, já me disseram que não desejam ir conosco, mas querem o melhor, assim como você disse, nosso plano é baseado na vida de minha família (meu marido, meu filho e eu)particularmente não acho nada fácil esta decisão, já ouvi muita coisa (críticas pesadas), mas Deus esta no controle e sei que fará o melhor.Um grande abraço
    Luciana
    Ah suas experiências tem ajudado muito, e este relato em especial!

    ResponderExcluir
  9. Oi Luciana! Fico feliz em saber que ajudo de alguma forma.Se quiser,mande um email para mantermos contato de uma forma mais pessoal sobre esse assunto,ok? Bjs e força!

    ResponderExcluir

A melhor resposta à calúnia é o silêncio. (Ben Jonson)